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Entrevista com Pedro Ribeiro de Oliveira


Vejam a reflexão de Pedro Ribeiro de Oliveira*, sociólogo, um dos fundadores do movimento Fé e Política e assessor da CNBB, sobre o II Encontro de Juventudes e Espiritualidade Libertadora!!!


ENJEL: Como podemos chegar a um modelo alternativo de convivência? Seria o Bem Viver um caminho?


Pedro: Desde a juventude apostei no socialismo como caminho para convivência humana de forma justa e igualitária, mesmo sabendo que a experiência histórica revelava suas limitações e erros. A previsão de catástrofe ambiental, porém, me fez ver que o socialismo – produto da modernidade ocidental – não impediria essa catástrofe, devido ao seu culto ao progresso e ao desenvolvimento das forças produtivas materiais. Foi então que descobri o caminho do Bem-Viver dos povos andinos e guarani. Ao postular o modelo de harmonia plena (consigo mesmo, com o próprio grupo, com outros povos, com outras espécies, com a Mãe-Terra e com o espiritual) ele implode o paradigma cartesiano moderno e abre o caminho para a reconciliação da espécie humana consigo mesma e com a comunidade de vida da Terra. Essa sabedoria – pois não se trata de uma utopia – só podia vir da periferia do sistema mundial moderno: os povos que há cinco séculos sofrem a exploração colonialista.


ENJEL: Onde está a juventude nesse momento do país? Como podemos unir forças para nos alimentarmos e seguirmos na esperança?


Pedro: Simplificadamente, porque tenho contato com jovens, eu diria que a juventude está sozinha porque minha geração não lhe deu a necessária atenção; ela busca encontrar um caminho para viver num mundo mais humano e nessa busca ela parece rejeitar quase tudo o que encontrou já feito. É pena, porque quebra a cabeça mais do que seria necessário, mas é normal: o mundo que ela encontrou pela frente pouco tem de favorável à promessa bíblica de vida longa e feliz sobre a Terra.

ENJEL: De que forma a espiritualidade se integra com as lutas por justiça, fraternidade, dignidade, paz, vida plena?

Pedro: Acho que a pergunta está mal formulada porque separa espiritualidade e lutas, como se espiritualidade se referisse a realidades imateriais, celestiais, coisas dos deuses... Para mim, espiritualidade é o cultivo do espírito e esse espírito pode ser voltado para realidades alheias ao mundo (e portanto alienado do) mas pode – e deve! – ser energia que move o mundo material, humano, natural, em que vivemos. Trata-se então de cultivar o espírito de luta, o espírito de cuidado, o espírito de justiça, o espírito de solidariedade, enfim esse santo espírito que fez de Jesus de Nazaré um grande profeta e que o ressuscitou quando foi executado pelo império de seu tempo. Respondo, então, à pergunta: trata-se de cultivar uma espiritualidade político-libertadora, que nos anime a lutar por justiça, fraternidade, dignidade, paz e vida plena em comunhão com as outras espécies que compõem a comunidade de vida da Terra.


ENJEL: Qual a importância deste encontro neste momento para o Continente latino-americano?


Pedro: O Encontro deve ser um momento forte de animação da juventude que busca abrir caminhos para um mundo onde reinem a Paz, a Justiça e o Cuidado com a Terra, ajudando os e as jovens a descobrirem a força do Espírito que nos move nessa “nobre luta pela Justiça”. A juventude movida por esse Espírito realizará grandes feitos em nosso País e nosso Continente.


ENJEL: O que, na sua opinião, não pode faltar neste encontro?


Pedro: Alegria. Estamos vivendo tempos tenebrosos no Brasil, em Nossa América e no Mundo, mas não podemos nos deixar abater pela tristeza e pelo medo da morte que provavelmente virá aos montes. Nos tempos mais duros da repressão, os bispos do Brasil escreveram uma carta ao Povo de Deus dizendo “ao cristão é proibido ficar triste, é proibido ter medo”. Isso vale para os nossos dias: nada de tristeza, nada de medo! Encarar a realidade de frente, sem fakes, porque nossas mães e pais na Fé, discípulas e discípulos de Jesus, testemunharam que ele venceu a morte, está vivo e prometeu se fazer presente sempre que “dois ou três se reunem em seu nome”.



*Pedro A. Ribeiro de Oliveira é doutor em Sociologia, professor aposentado dos PPG em Ciência/s da Religião da UFJF e da PUC Minas. Membro de ISER-Assessoria, da Equipe de Formação da Prelazia de São Felix do Araguaia e da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política.


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